5 razões para ver o filme 'Lampião da Esquina'

Documentário de Lívia Perez resgata história da primeira publicação gay do Brasil, que era afronta pura

Publicado em 18/08/2016
Jornal Lampião da Esquina, primeira publicação gay brasileira, é tema de filme de Lívia Perez, que estreou em São Paulo
Lampião da Esquina misturava humor, cultura, sexualidade e ativismo

Por Marcio Claesen

Estamos aqui em 2016 com memes, WhatsApp, Snapchat, nudes... Mas bem antes disso, o que começou a despir o Brasil da discriminação contra LGBT e a atualizar a mentalidade do país foi um jornal de papel pensado desde o início para fazer uma revolução arco-íris.

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Com estreia nos cinemas nesta semana, o longa-metragem Lampião da Esquina, conta a história da publicação homônima que circulou entre 1978 e 1981 e nasceu pelas mãos de um grupo de jornalistas, escritores e intelectuais - todos assumidamente gays.

Em meio à Ditadura Militar, época de perseguição explícita aos homossexuais, e inspirados pelo jornal americano Gay Sunshine e por publicações nacionais debochadas tais como O Pasquim, esses homens ousaram e fizeram história ao falar de cultura, ativismo e sexualidade gay. Tudo isso quando homossexuais e travestis só chegavam às manchetes dos jornais "tradicionais" como assassinos e bandidos. 

Essa efervescência é bem mostrada no longa de Lívia Perez. Abaixo estão cinco razões "babadeiras" para você não deixar de ver a produção. 

1. Ver o nascimento do movimento gay
O Lampião foi o berçário da primeira entidade de direitos LGBT do Brasil, o Grupo Somos, em São Paulo, predominantemente formada por homens homossexuais. A inspiração veio do ativismo dos EUA, que naquele momento, já construía história (com as paradas, por exemplo). Aliás, as experiências vividas, em terras americanas, pelos responsáveis pelo jornal foram determinantes em tudo o que viria depois. O motivador era tirar o atraso do Brasil em termos de afirmação gay.  

2. Conhecer a origem das gírias gays e trans
Ok, você arrasa com as gírias gay e trans atualmente, mas não pense que boa parte delas nasceram na época do primeiros grunhidos de Britney Spears. A história é longa e tem como pólo difusor justamente o Lampião. Como afirma o cantor Edy Star no documentário: "Essas gírias gays que eu ouço hoje eu já ouvia a Rogéria falando há 30 anos".

A razão desse poder de disseminação veio de uma decisão editorial, como explica o escritor João Silvério Trevisan, um dos fundadores da publicação. "Há uma linguagem da subcultura gay. E é essa que vamos usar para falar no jornal." Como é dito na produção, isso sim é "fortíssimo babado".

3. Saber como era ser gay e trans nos anos de chumbo 
Atualmente, lutamos por espaço na política, nas leis, na mídia, no mercado e, também, claro, até pelo direito de viver. Esse momento são ecos do tempo do jornal, quando bastava ser homossexual para ir parar na delegacia. No meio do Largo do Arouche, o coração gay de São Paulo, policiais abriam as portas da viatura e gritavam simplesmente: "Quem for viado, vai entrando no camburão!". Importante ver tudo isso para sempre revenciarmos os que nos antecederam! 

4. Conhecer a origem da cena gay do Rio
Assim como no excelente São Paulo em Hi-Fi, de Lufe Steffen, no qual são retratados os primórdos da vida noturna homossexual na capital paulista, Lampião da Esquina resgata um pouco do que foi a noite gay carioca.

Aqui, claro, este tema não é o foco do filme, mas há registros de boates, conhece-se um pouco do que foi a histórica Galeria Alaska e dos hábitos do cantor Freddie Mercury, que em passagens pelo Rio pegava um boy magia atrás do outro.

Ao mesmo tempo, os entrevistados relatam que as pessoas e consequentemente os lugares eram de sexualidade mais fluida. Não havia uma divisão clara de lugares para gays e outros para héteros. Todos frequentavam os mesmos lugares e eventualmente as mesmas camas, o que caracterizava o que chamavam de "gay de ocasião".

Teria sido depois do surgimento da aids que pessoas e lugares passaram a se definir de forma mais categórica como hétero e gay. "Hoje existe até cruzeiro gay. Deus me livre ir num lugar assim. Eu gosto é da mistura", vocifera Ney Matogrosso, sem especificar se nesses lugares ele pode apenas estar ou pode se expressar como gay. 

5. Ter noção de que a soma com a esquerda não foi fácil
Se hoje a pauta LGBT está intrinsicamente ligada a partidos da esquerda, saibe-se que nem sempre foi assim. Homossexuais não se encaixavam dentro das propostas de nenhum dos lados, apesar de haver um flerte com uma das tendências. "Eu percebi que o namoro dos gays com a esquerda não era correspondido", diz o escritor Aguinaldo Silva, outro dos fundadores do Lampião.

Luís Inácio Lula da Silva, sindicalista já renomado, foi entrevistado pelo jornal - inclusive, deixado-se fotografar com shorts curtos, comuns na época - e declarou que não conhecia nenhum homossexual dentro da classe operária. O machismo também foi abordado na reportagem. "Feminismo é coisa de gente que não tem o que fazer", foi outra declaração de Lula.

Clique aqui para ver horários e local de exibição do filme.


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