Gay que deseja se infectar por HIV é cerne da peça 'Bug Chaser'

Dirigido por Davi Reis, espetáculo com Ricardo Corrêa faz temporada gratuita na Oficina Cultural Oswald de Andrade

Publicado em 28/06/2017
Bug Chaser - Coração Purpurinado: peça de Ricardo Corrêa e direção de Davi Reis fala sobre gay que pretende se infectar pelo HIV
Ricardo Corrêa vive advogado gay em busca do vírus HIV. Foto: Alice Jardim

Se o HIV e a homossexualidade ainda não são um tabu, o que dizer de uma pessoa que pretende se infectar pelo vírus? Este tema complexo é abordado em Bug Chaser - Coração Purpurinado, espetáculo que estreia em 6 de julho em São Paulo em temporada gratuita.

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"Falar de bareback, de um homem a procura de um vírus e de toda uma sociedade deteriorada, é trabalhar num universo particular que não deve ser entendido cartesianamente e requer cuidado para não reforçar preconceitos", explica o diretor Davi Reis a respeito da peça da Cia. Artera de Teatro.

No palco, Ricardo Corrêa (também autor do texto) vive Mark, um advogado criminalista que busca ser infectado pelo HIV. Ele está em uma quarentena e é analisado por um voz de inteligência artificial.

"A quarentena da peça significa a de todos os dias em que os discursos biomédicos colocam o sujeito que pratica bareback como alguém anormal, portador de distúrbios psicológicos ou criminalizadores, que acabam contribuindo para a manutenção de novos estigmas que há séculos acompanham os indivíduos homossexuais", afirma Corrêa. 

O ator e dramaturgo revela que passou mais de um ano pesquisando sobre o assunto e lidou com documentos e depoimentos de homens que se dispuseram a falar sobre o bareback. Esse estudo para o espetáculo originou o curta-documentário No Sigilo.

Reis explica sobre o desafio da produção que lida com um personagem que vai a extremos. "Aqui, a luta contra a biopolítica impositiva e em estar fora da caixa social em que estamos automaticamente submetidos é levada ao limite. A partir da verticalização profunda no universo LGBT - abrangendo desde a sua subcultura até o mais violento preconceito sofrido - e a busca por ressignificações de lugar no mundo, pretendemos trazer questionamentos para além da simples reflexão e julgamento."

A prática de barebacking - sexo sem proteção - deve ser distinguida do bugchasing - aqueles que têm o objetivo de contrair o vírus, lembra Corrêa. "Nem sempre os praticantes de bareback buscam a soroconversão", diz. "Percebi que esse é um assunto sobre o qual não se fala, há um silêncio na comunidade LGBT e por isso decidi enfocá-lo neste projeto artístico, pelos diferenciais que ele carrega em si e por sua tamanha complexidade."

"Existem, entretanto, diferentes aspectos ou dimensões culturais mais amplas, do nosso tempo, que devem ser considerados nestes contextos de fascinação pelo risco ou apostas nos ganhos sensoriais de encontros perigosos. Problematizo um homem em trânsito em um mundo doente, que busca encontrar pertencimento e aceitação. Uma jornada perigosa de autodescoberta para encontrar o melhor e o pior de uma nova comunidade que ele quer desesperadamente fazer parte. Falo de falo de escolhas, de desejos, de estigmas e principalmente sobre um novo capítulo da história do HIV", conclui o ator.

Bug Chaser - Coração Purpurinado faz temporada de quinta a sábado na Oficina Cultural Oswald de Andrade até 5 de agosto. Mais informações você tem em nossa Agenda clicando aqui.

 


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