Por Marcio Claesen
Com o interior da Argentina como cenário, um romance que começou na infância é resgatado na idade adulta em Esteros, longa-metragem que chega aos cinemas nesta quinta-feira 27.
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Dirigido por Papu Curotto, em sua estreia atrás das câmeras, o filme se passa em dois tempos. O passado pertence às brincadeiras, jogos e passeios no sítio que uniam Matías (Joaquín Parada) e Jerónimo (Blas Finardi Niz).
Suas famílias eram melhores amigas e tudo conspirava para que todo o tempo livre fosse dedicado um ao outro. Eles mal sabiam, mas não era apenas um forte laço de amizade que conectava esses dois meninos. Eles se amavam.
Já o presente compete a sentimentos ainda mais conflituosos e decisões extremas, afinal, já se passaram 15 anos e os dois fizeram suas escolhas. Matías (Ignacio Rogers) casou com um brasileira, Rochi (Renata Calmon), e Jerónimo (Esteban Masturini) assumiu-se gay.
É em Paso de los Libres, na fronteira com o Brasil, que a história é lembrada e onde também é resgatada. Em um carnaval, Matías e Rochi, que vivem no Brasil, aparecem para passar o feriado na cidade e rever amigos e esbarram em Jerónimo.
Um amor que nasce na infância e por algum motivo é vetado e faz os amantes o resgatarem depois não é nada incomum no cinema, mas se estivermos falando de pessoas héteros. Dentre gays não há uma cinematografia tão vasta sobre o assunto, até porque o tema ainda é tabu. Mas não é só o argumento do longa que o faz valer a pena.
"Nestes tempos de abertura e visibilidade das diferenças que, felizmente, transitamos como sociedade, é essencial dar lugar a estas histórias. Contar, a partir de um ponto de vista transparente, a diversidade como parte construtiva da nossa identidade é mostrar outras formas de ser nos relatos que nos contam", explica o diretor.
O filme é carregado de nostalgia, de um tempo que se faz tão presente que quase palpável, e fala de resgates, perdas e memórias de forma tão suave que qualquer pessoa - gay ou não - consegue se identificar.
Pesa também a favor a interpretação dos jovens, soltos, mas intensos, e de Marilu (María Merlino), mãe de Jerónimo, aquela que percebe tudo, mas se abstém de julgamentos e só os envolve numa camada de amor.
Por outro lado, Rogers demora a se entregar ao personagem. O ator parece absorto e pouco crível no papel até metade do filme e seus diálogos com Renata beiram o amadorismo. O diretor também pesa a mão no excesso às referências. Não é apenas o sítio que os faz lembrar do passado, mas a mesma música, a chuva, a foto... Há um exagero de elementos para reconectá-los.
Ainda assim, Esteros é um belo filme que toca em um tema pouco explorado - amor gay na infância - e mostra que o recomeço está nas mãos de qualquer um, basta decidir-se pelo o que se é de verdade.
Esteros - Trailer (Legendado em Português) from Latina Estudio on Vimeo.
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