Editorial
Lula é tido até por seus inimigos como mestre da arte da política. Entretanto, com a popularidade em queda, o talento parece ter se voltado a outra área, menos nobre: a do jogo do poder.
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No lugar de fazer com que opostos se componham e valores democráticos não sejam moeda, quem se mostra é o Lula que rifa quem pode menos e bajula quem se arvora como dono de poder demais.
Em 2020, Lula foi notícia por criticar a isenção fiscal de igrejas sob o argumento de que uns poucos não podem ter vantagens para que muitos as compensem frente ao governo.
Um ano e dois meses depois da posse, com aprovação vista como sustentada por pés de barro, a manchete muda: Planalto abre mão de R$ 1 bilhão em receita ao avalizar isenção tributária a igrejas. Ao ser aprovada, a proposta vai beneficiar as 175 mil igrejas do País.
Tudo isso é feito em um governo que busca tapar buracos no orçamento para que as contas federais não fiquem com mais gastos que entradas.
O que move Lula é o medo! Medo de como a negativa a essa vantagem poderia ser usada pela direita e pelos líderes religiosos, mais fortemente pastores evangélicos, nas eleições para sua recondução em 2026.
Parece ecoar a cada dia na cabeça presidencial dados tal como o de que para 40% dos evangélicos seu governo é pior do que o de Jair Bolsonaro (PL).
Para o núcleo duro do governo e para a diretoria nacional do PT está claro: tem-se de atender e muito ao que pedem representantes de evangélicos ou se perderá a reeleição.
Umas perguntas: "Cadê o ás político que era capaz de conversar e chegar a um ponto em que sua ideia vencia? Ele não vê outra forma de mostrar ao eleitorado religioso que seu governo é bom? Ele não enxerga que muitas lideranças religiosas não refletem o que pensam o povo evangélico necessariamente?".
Outra: "Vencer para fazer o quê? Fazer o que governos de direita fruto da artimanha de lideranças evangélicas fariam?"
Lula, há poucas semanas, começou a promover encontros com lideranças na Granja do Torto, algo como um casa de campo presidencial. Quem estava na lista de convidados da primeira reunião? Dentre outros, lideranças religiosas.
Quando chegará a vez de ativistas LGBT? Que venha!
A circunflexão presidencial se dá por um único motivo: Lula não se sente dono dos votos dos evangélicos. E aqui, por oposição, a danação de LGBT: ele sente que é detentor do termo de propriedade dos votos do povo purpurinado.
"Por que bajular quem está refém de votar em mim?", deve pensar ao fazer as orações matinais.
O discurso está preparado e não é novo já que foi usado em 2022: "Votem em mim, apenas em mim! Do outro lado, tem Bolsonaro (ou bolsonarismo)! E terceira via? Essa eu já dei um jeito de aniquilá-la como opção!"
Esse Lula sedento de poder e já escasso de política dará R$ 1 bilhão por ano às igrejas, que, a partir daí, terão ainda mais dinheiro para trabalhar contra os direitos e a vida LGBT.
Em nome de seu futuro, Lula deixa para Deus o de LGBT! O Deus de ódio de boa parte dos evangélicos.