Atualizado às 18h
Morreu na manhã desta sexta-feira 31 o DJ Mauro Borges, aos 56 anos.
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Formado jornalista e com 31 anos de carreira atrás das pick-ups, Mauro revolucionou a cena LGBT brasileira.
Após modelar em Milão, na Itália, e trabalhando em uma loja de discos em São Paulo, a Bossa Nova, Mauro começou a discotecar na Nation, ao lado do DJ Renato Lopes, no fim dos anos 1980.
O clube, em uma galeria na Rua Augusta, nos Jardins, foi responsável por disseminar a house music em São Paulo, que despontava no mundo, e foi um marco na cena underground.
Com Renato e Bebete Indarte, outra pioneira da cena LGBT, Mauro criou o primeiro grupo de dance music do País, o Que Fim Levou o Robin?
A banda se apresentava em programas de TV, como os de Gugu Liberato e Xuxa, e com o hit Aqui Não Tem Chanel ganhou música e revelação do ano, em 1990, pela principal revista de música do País na época, a Bizz.
Mas foi no Massivo - que qualquer gay brasileiro que hoje sai à noite tem a obrigação de conhecer - que Mauro deixou sua maior marca.
O clube, também no elegante bairro dos Jardins, que ele abriu com Bebete, em 1991, instituiu a figura das drag queens na cena LGBT.
Se hoje todos podem se montar para curtir a noite não é por causa do reality de RuPaul (que tem seus méritos, claro). Mas foi no Massivo que a cultura drag começou no Brasil.
Mauro se orgulhava em ter criado a primeira "balada mix", que na época era chamada de GLS (sigla para gays, lésbicas e simpatizantes) do País.
A boate ajudou a formar a geração clubber dos anos 1990 e catapultou o bairro como o lugar mais fervilhante de endereços LGBT da cidade - inúmeros bares e baladas foram abrindo em volta do Massivo e nos quarteirões adjacentes.
Anos depois, Mauro criou a Disco Fever, famosa pelos go-go boys, e circulou por dezenas de casas. Com corpo sempre invejável, posou nu nos anos 1990 para as revistas G Magazine e Bananaloca. Em 2017, reabriu a Nation no mesmo endereço de quase três décadas antes.
Apaixonado por Madonna, o DJ tocava de Miriam Makeba a Kylie Minogue (como lembrou a jornalista Erika Palomino no livro Babado Forte), e tinha uma vocação natural para o pop.
"Sem exibir muita técnica, ou evidenciando uma espécie de antitécnica (ou o deboche a ela), num estilo de cortes e back-spins (rodar o disco ao contrário), Mauro prima pela cultura musical, pelo feeling em relação à pista e pela personalidade na cabine. Se hoje isso hoje parece óbivo e previsível, na época era original e emocionante", lembrou Erika, no citado livro, sobre o começo da carreira do DJ na Nation.
Em sua página no Facebook, Bebete, que mora há 22 anos na Holanda, lembrou do amigo com carinho.
"Você sempre foi um incansável, 30 anos de carreira, 30 anos pulando, dançando vogue, animando corações e mentes brasileiras, 30 anos...dedicados ao seu público que com certeza fará uma bela homenagem. (...) Nunca mais o verei, mas todos sabem sobre nós", escreveu.
A causa da morte não foi divulgada. O velório do DJ será realizado nesta sexta no Cemitério Flamboyant em Campinas (SP) e o enterro no sábado, às 10h30.