Ao sair de São Paulo para ir a Londres quando isso for possível, um dado precisa estar em mente: você estará indo para um lugar com seis vezes mais denúncias de homofobia do que a capital paulista. E com moradores cada vez mais assustados com a discriminação nas ruas.
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De novembro de 2018 a outubro de 2019, foram registrados 3.111 casos de homofobia na capital inglesa, de acordo com levantamento da polícia local. Em São Paulo, o número no mesmo período foi de 527, ou seja, cerca de seis vezes menos.
O quantitativo na metrópole brasileira vem de somatário dos casos registrados nas delegacias de polícia (473) com os que foram reportados ao Governo do Estado de São Paulo por conta da lei estadual que penaliza a discriminação contra LGBT. Nos 12 meses, foram apenas 54 denúncias. A norma existe há 19 anos.
O primeiro levantamento foi conseguido por nossa reportagem por meio da Lei de Acesso à Informação.
A situação em Londres tem se agravado para o segmento LGBT. Reportagem da BBC mostra que o número de denúncias tem crescido ano a ano desde 2015. Até 2019, o aumento foi de 54%.
E o medo passou a ser parte do dia a dia. A notícia fala do caso do youtuber Bradley Birkholz, que saiu dos EUA para viver em Londres esperando ir morar em um paraíso progressista.
Entretanto, apenas dois meses depois ele foi agredido fisicamente. Bradley relata também ser constantemente xingado em lugares públicos e evitado algumas ruas com medo de mais violência discriminatória. Até pegar metrô é algo que o apavora. "Evito muito pegar à noite. Quando o faço, vou com muito medo."
Os números deveriam ser bem maiores. Em conversa com nossa reportagem, a ONG ativista Stonewall lamenta a baixa quantidade de discriminação denunciada às autoridades.
"O grande índice de violência que não são relatadas à polícia é problema que enfrentamos em Londres e no país como um todo. Temos trabalhado com os serviços de segurança para tentar mudar esse cenário. Muitas pessoas LGBT não procuram a polícia com o receio de não serem levadas a sério ou até por não saberem que o que sofreram foi um crime", detalhou porta-voz da organização.
A respeito da diferença positiva para a capital paulista, o coordenador Estadual de Políticas da Diversidade Sexual da Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo, Marcelo Gallego, mostra-se descrente. Como argumento, ele tem avaliações próximas à entidade londrina sobre a própria realidade.
"Não temos cultura de denúncia, e há receio mesmo de ir à polícia. Muita gente nem conhece a lei. Não acredito que São Paulo seja menos homofóbica que Londres."
Ao contrário da cidade inglesa, São Paulo tem orgão específico para acolher denúncias de LGBT, a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi).
No mais, qualquer delegacia registra a denúncia, o que também pode ser feito via on-line.
