O número dele na campanha eleitoral foi 4569. Os santinhos estamparam o slogan "Ele não promete, ele dá". A letra do jingle incluía a intenção de ir para Brasília para "quebrar o pau". No vídeo, a coreografia provocava risos.
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Esse é um lado de Rafael Pereira Sousa, o Rafafá, 30 anos, gay, de origem pobre, de Campina Grande, e que, nos próximos quatro meses, será deputado federal pela Paraíba por ser suplente do também tucano Pedro Cunha Lima.
O compromisso dele é com o povo. Sua luta é para fortalecer o Sistema Único de Saúde. Uma de suas metas é incentivar a geração de empregos. Educação pública de qualidade é o futuro que vislumbra.
Esse é outro lado de Rafael Perei... Ou será o mesmo lado?
"Usei muito do humor nas minhas campanhas, mas sem deixar de tratar de assuntos importantes. O que desvaloriza a política é a corrupção, a hipocrisia, o falso moralismo, a exclusão", defendeu-se nessa entrevista ao Guia Gay ao falar sobre o tom pitoresco na campanha para algo tão importante como estar na vida pública.
Ter o nome em um dos gabinetes de Brasília será a realização do sonho de ocupar cargo eletivo, depois de tentar ser vereador em 2016 e 2020, e dar... orgulho!
Como sua família lidou com sua homossexualidade?
Quando me descobri gay, fui vendo a melhor forma para mostrar isso para meus avós e minha mãe, para que, automaticamente, minha família percebesse a minha orientação sexual.
Eu me dou muito bem com minha mãe. Na minha família, todo mundo me aceita, gosta de mim e eu não tive nenhuma dificuldade, preconceito, nunca fui agredido e nunca me senti ameaçado por ser gay. Eu me sinto privilegiado porque sei que essa não é uma realidade de todas as pessoas.
Ainda hoje sabemos de casos de homossexuais que são agredidos por familiares, excluídos e vítimas de muito sofrimento. É uma triste realidade social que ainda precisamos superar. Eu, graças a Deus, fui aceito e acolhido e sou extremamente grato por tanto amor.
Como foi receber a notícia de assumir o mandato no Congresso?
Recebi com muita alegria, mas principalmente com muita responsabilidade por saber da missão que tenho para desempenhar nos próximos meses.
O gesto do deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB) de se licenciar exclusivamente para permitir que eu pudesse assumir a vaga também me causou muita gratidão e reforço no compromisso de desenvolver um trabalho à altura.
O senhor já tem algum projeto de lei pensado e quais bandeiras que vai defender?
Minha bandeira principal é o povo. Eu sou uma pessoa de vida muito simples e conheço de perto a realidade da maioria da população brasileira, que é aquela que depende do Sistema Único de Saúde, que estuda em escola pública, que luta por qualificação para poder ter acesso ao mercado de trabalho, aquela população que tantas vezes é excluída, vítima de preconceito, por ser negro, pobre, gay.
Essa é a maioria da população brasileira. Por isso que, quando indagado, eu sempre digo que eu sou a maioria e não a minoria como querem nos fazer crer. Minhas ações na Câmara estarão voltadas para a defesa do SUS, da saúde e da educação pública.
Defendo a inclusão dos profissionais de educação como grupo prioritário para vacinação contra a covid porque percebo que há perda imensa com o modelo das aulas remotas para os estudantes da rede pública. Por isso, acredito que precisamos de ações concretas que permitam que as aulas possam retornar ao modelo presencial ou pelo menos híbrido.
Outras ações que levarei para a Câmara serão a defesa da causa animal; mais oportunidades para que as pessoas acima dos 40 anos possam voltar ao mercado de trabalho; valorização da cultura e dos artistas populares; luta contra o preconceito racial e a intolerância religiosa e bandeiras do movimento LGBTQIA+.
O fato do senhor ser gay já causou algum problema na sua carreira política?
Não. Sempre consegui me relacionar bem com as pessoas, sou comunicativo e acredito que isso me trouxe certa facilidade para me aproximar do meio político na minha cidade. Isso me fez despertar para perceber que eu conhecia de perto as dores e as necessidades das pessoas e que eu poderia, sim, contribuir para trazer melhorias reais para quem mais precisa.
Então, meus amigos e as pessoas que eu conhecia começaram a me dar força para me lançar candidato e, assim, eu me enchi de coragem e do apoio deles – porque ninguém faz nada sozinho – e segui.
Ao assumir o mandato, o senhor será o terceiro LGBT atuando na Câmara nesse momento e o quinto gay assumido a passar pela Câmara na história. O que o senhor pensa da representatividade de LGBT na política?
Penso na importância de termos um parlamento que seja realmente a representação da sociedade brasileira. E nossa sociedade é diversa e multicultural. O que temos hoje é um Congresso muito distante do que realmente é a maioria da nossa população.
Acredito que a minha chegada à Câmara sem dúvida fortalece um pouco esse retrato da diversidade brasileira, de nordestinos, de família humilde e gay.
No jingle da sua campanha para deputado, o senhor dançava de forma jocosa dizendo que iria a Brasília para quebrar o pau. Isso não desvaloriza a política, que é algo que lida com temas sérios, tais como saúde, educação, habitação?
Eu sou humorista e usei muito do humor nas minhas campanhas, mas sem deixar de tratar de assuntos importantes. Acho que o que mais desvaloriza a política é a corrupção, a hipocrisia, o falso moralismo, a exclusão, em detrimento de políticas públicas que realmente possam fazer a diferença na vida das pessoas.
Quando digo que vou ‘quebrar o pau’ é porque eu vou mesmo, vou ser um incansável defensor da população, que é a maioria da nossa sociedade e vou ser contra os privilégios da minoria, que finge que não existimos. Não vou me omitir.