Drauzio Varella faz texto forte sobre violência contra travestis

Médico lembrou de dados e palestra sobre e com travestis presas há cerca de 30 anos e recente conversa com o segmento

Publicado em 18/02/2019
Drauzio Varella falou sobre violência contra travestis em coluna na Folha de S. Paulo
'Muitas se suicidam ou perdem a vida nas mãos desses psicopatas com transtornos sexuais'

O médico cancerologista Drauzio Varella escreveu sobre a realidade difícil encarada pelas travestis no País em sua coluna na Folha de S. Paulo, no domingo 17.

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No texto, Varella destaca que em um estudo realizado por ele em 1989, no extinto Complexo Penitenciário do Carandiru, na Zona Norte de São Paulo, 17,3% dos presos possuíam HIV.

Dentre as travestis, a taxa subia e muito: 78% estavam infectadas e dentre as que cumpriam pena há mais de seis anos, 100% eram soropositivas.

"Nunca soube de um estudo em que a totalidade de um subgrupo estivesse infectada", escreveu o médico.

Varella se recorda de uma palestra dada por ele sobre contaminação pelo HIV a travestis em outubro de 1992, horas antes da rebelião do pavilhão 9 que culminou com o maior massacre da história das prisões brasileiras (111 detentos foram mortos e o presídio foi desativado pouco depois).

Ele conta que ao terminar sua exposição, uma travesti magrinha, de cabelos oxigenados, levantou a mão. "Doutor, a gente agradece a sua boa vontade, mas todas nós estamos cansadas de saber como pega ou não pega o vírus, o que nós precisamos é de camisinha. Sem ela, o que adianta falar?". À época, as autoridades resistiam em distribuir preservativos nas prisões.

Muitos anos depois, Varella continua dialogando com o segmento. O médico diz que mês passado palestrou para as 198 travestis detidas em uma das prisões do Cadeião de Pinheiros, centro de detenção provisória na Zona Oeste de São Paulo.

"Falamos sobre prevenção e sobre a condição de vida das travestis na sociedade brasileira. (...) Apanhar do pai, dos irmãos, dos moleques na rua por causa dos modos femininos era acontecimento rotineiro na infância de todas", escreveu.  "Abandonar a casa dos pais para viver por conta própria, mal chegada a adolescência, também."

Ele continua: "O preconceito contra as travestis é tão arraigado que basta colocarem os pés na rua para serem consideradas marginais. 'Travesti é assim: se ainda não fez, vai fazer', disse um delegado certa vez".

"Ninguem as defende da arbitrariedade policial nem das agressões dos celerados que as espancam pelo simples fato de existirem. Muitas se suicidam ou perdem a vida nas mãos desses psicopatas com transtornos sexuais."

O médico diz que no fim da conversa, as detentas queixaram-se do calor infernal e da falta de acesso a hormônios femininos. Ainda assim, ele afirma que perguntou onde sentiam mais segurança e e eram mais respeitadas, se na rua ou na cadeia. E todas responderam: "Na cadeia".


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