Conferência LGBT evidencia que há inimigos dentre nós

Abjeto limitar a participação de gays, homens bissexuais e trans masculinos a 40% dos delegados

Publicado em 06/03/2024
conferencia lgbt nacional
Negros lidavam com os capitães do mato. Gays agora têm algo similar: os bedéis da sauna

Editorial

Sim, há inimigos lá fora! Conservadores, boa parte das religiões, políticos populistas, pessoas para quem os direitos humanos mal deveriam existir. Entretanto, não nos enganemos, há também dentro do movimento LGBT!

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Os exemplos são vários, tais como quem defende aniquilar a bandeira arco-íris como nosso símbolo maior e aqueles que se julgam livres para controlar o desejo sexual de homo e bissexuais em nome do politicamente correto.

Uma outra grande amostra renasceu em 2024! E, veja só, novamente com o timbre da Presidência da República! 

Trata-se do Documento Orientador para a Realização das Conferências Preparatórias Locais, Estaduais, Livres e do Distrito Federal para a 4ª Conferência Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, publicado em fevereiro. 

Aí estão diretrizes e regras para as reuniões entre Poder Público e sociedade civil que deverão ser feitas em 2024 e que desembocarão na conferência nacional, marcada para 2025. 

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As decisões nada valem! Em nenhum nível! São só apontamentos. As três conferência anteriores (2008, 2011 e 2016) e o quanto cada caderno volumoso que nasceu dos eventos foi ignorado mostra isso. Mas o governo petista central insiste! 

O debate sobre a ineficácia desses eventos é fundamental e não fere princípios do movimento LGBT. Entretanto, a diminuição da voz de gays, homens bissexuais e trans masculinos que essa conferência promoverá é abjeta. 

No documento de 2024, o absurdo de limitar o número de delegados de identidade masculina nas conferências estaduais, distrital e nacional a 40% repete, sem nenhum pudor, o que ocorreu em 2016.

Desta vez, identidades femininas ficarão com 53% dos postos e outros identidades com 7%. 

A pergunta é: porque não trabalhar com um dos princípios mais importantes dos direitos humanos que é a igualdade e fazer com as identidades masculinas e femininas tenham o mesmo percentual de participação (41,5%)?

Inaceitável, chega ser vergonhoso, defender que gays, homens bi e trans masculinos não possuem o direito de ter voz respeitada tal como mulheres. Exemplo é própria estatística do Governo Federal que mostra serem gays os que mais registram denúncia de discriminação no Disque 100, serviço do Ministério dos Direitos Humanos

Abafar o manifesto de quem sofre tanto com violência das mais diversas formas é demonstrar tratamento digno? Com a mesma boca que fala da dura realidade de gays negros de periferia, por exemplo, mandá-los "ficar quietos"?

Quem é o responsável por esse descalabro? O Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, composto por quem deveria zelar por respeito entre os segmentos que constroem o movimento. A saber, 38 representantes do governo federal e de entidades ou setoriais LGBT em partes iguais. 

"Mas há gays no conselho e eles anuiram com essa decisão!", pode-se argumentar. Oras, nada mais são que a versão arco-íris dos capitões do mato para negros. Aqui, os bedéis da sauna! 

O silêncio cúmplice de gays, homens bissexuais e trans masculinos do movimento com quem amarra vendas nas suas bocas alimenta a desesperança. Viram a decisão e enfiaram a cabeça na areia! 

Levantemo-nos contra nossos inimigos! Todos! Os de cruzes nas mãos e os de glitter no olhos! 


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