Enquanto ainda há algumas vozes restantes que reclamam da falta de solidariedade intra-ativismo LGBT e outros até falam de movimento GGGG, a II Caminhada pela Paz, na tarde do sábado 28, mostrou outro cenário.
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A mesma Avenida Paulista que recebeu a Parada do Orgulho LGBT em 2016 com tema sobre a cidadania de trans foi lugar para o ato, organizado pelo Centro de Apoio e Inclusão Social de Travestis e Transexuais (Cais). O lema foi "Sou trans, quero dignidade e emprego". No domigo 29 é celebrado o Dia Nacional da Visibilidade de Travestis e Transexuais.
Perguntada pelo Guia Gay São Paulo sobre qual a principal demanda atual do segmento, a representante do Cais, Renata Perón, respondeu de forma direta. "Queremos emprego! É algo fundamental". Dias antes, seminário teve como foco justamente a questão da empregabilidade.
Pedir carteira assinada em tempos de alto desemprego e de mudança profunda das relações trabalhistas não é tido por Renata como algo fora de contexto. "Não há condições de falar para uma de nós, sem condições mínimas de sobreviver, ir abrir uma empresa. O tempo para isso não é agora. Precisamos nos inserir no mercado de trabalho antes."
Importantes reivindicações do segmento avançaram no País e em São Paulo. O respeito ao nome social, por exemplo, é regra no Sistema Único de Saúde, em toda rede de ensino público paulista e nas repartições públicas municipais da capital. Mas, a realidade não pode ser medida pela letras dessas normas, diz a ativista, formada em Serviço Social.
"Uma coisa é o que está escrito, mas a lei tem de ser efetiva. E falta ainda muita sensibilização de quem compõe esses serviços. Precisamos avançar muito ainda."
E outras demandas foram postas. Masao HMF, de 46 anos, empunhava a questão da existência de homens trans asiáticos. "Vê-se muitos homens trans na mídia, mas nenhum asiático. Nós existimos! Chega de ser invisibilizado ou objetificado."
Pouco antes da saída da caminhada, no carro de som em frente ao Masp, a ativista e professora Erika Hilton pediu para cis levantarem os braços em um momento, e trans em outro. A quantidade dos primeiros era muito maior. Nesse momento, cerca de 300 pessoas participavam do ato.
Dentre muitos cartazes e pessoas com pintura no corpo, um casal fazia sua luta com troca de carinhos. A travesti e maquiadora Roberta Bloom e o transexual e técnico de ótica Bruno Ramires, ambos de 20 anos, namoram há um ano.
Eles se conheceram quando ainda eram cisgêneros. Roberta fez sua transição de gênero, o que chamou atenção de Bruno e veio a primeira ficada. Tempo após, o namoro. Agora, ela o apóia no mesmo processo, interrompido por uma gravidez dele com ela. Bruno sofreu aborto, mas os planos prosseguem.
"Retomei a hormonoterapia. O filho fica para a frente. Temos apoio da família dela. A minha me aceita como homem trans, mas não o fato de eu namorar uma trans. Mas estamos juntos e fortes", diz Bruno sem se separar um segundo sequer da amada.