A temática arco-íris tem ganho cada vez mais espaço nas telonas. E não só lá fora. Prova disso é que o País tem produzido o suficiente para ganhar um livro com este foco.
Em O Cinema que Ousa Dizer Seu Nome, o jornalista e cineasta Lufe Steffen se debruça sobre os últimos 15 anos da produção brasileira de filmes LGBT. A obra, que sai pela Editora Giostri, tem lançamento marcado para 23 de janeiro no Espaço Parlapatões.
Escrevendo, produzindo ou dirigindo, o autor tem extenso currículo em prol da cultura arco-íris. Lufe passou por sites LGBT, canais do YouTube e atrás das câmeras foi responsável por uma dúzia de filmes, dentre eles, os documentários A Volta da Pauliceia Desvairada (2012) e São Paulo em Hi-Fi (2013), ambos sobre a noite gay paulistana. Muitos deles premiados merecem elogios, mas "Hi-Fi", em particular, é um registro histórico primoroso sobre o começo das boates e points gays de São Paulo, dos anos 1960 ao início dos anos 1990.
Ao Guia Gay São Paulo, o autor lamenta a quase inexistente literatura a respeito do tema, conta como foi a pesquisa e o processo para trazer o livro à tona e se mostra esperançoso sobre as próximas produções LGBT no cinema. Confira:
Como surgiu a ideia do livro? A ideia do projeto surgiu porque eu, sendo cineasta e fazendo filmes de temática LGBT, sempre gostei de acompanhar a produção de temática LGBT produzida no Brasil. Então, nos festivais temáticos eu preferia assistir aos filmes nacionais em vez dos estrangeiros. Acho importante, como cineasta brasileiro ligado nos temas gays, ver o que meus colegas conterrâneos estão fazendo, acredito que isso abre horizontes.
Aí, depois de anos vivendo isso, senti necessidade de fazer mais. Meu lado jornalista me inspirou a descobrir mais sobre esse cinema brasileiro LGBT, saber mais, não apenas assistir. Então surgiu a vontade de entrevistar os diretores. Aí comecei a entrevistar e a publicar essas entrevistas num site sobre cinema. Algum tempo depois, a conselho de amigos, resolvi reunir as entrevistas num livro. Assim nasceu O Cinema que Ousa Dizer Seu Nome, que reúne algumas das entrevistas publicadas no site (mas ampliadas e reeditadas), além de muitas entrevistas novas e inéditas.
Como você avalia a literatura de cinema gay no Brasil? Literatura de cinema gay no Brasil? Até onde eu sei, praticamente não existe. Temos o livro A Personagem Homossexual no Cinema Brasileiro, de Antonio Moreno, lançado em 2001, que faz um rastreamento dos personagens LGBT até aquele momento. Mas não me lembro de nenhum outro título ligado a esse contexto... No meu caso, minha inspiração maior veio de livros de entrevistas com cineastas, independente de temáticas.
Como foi a pesquisa?
A pesquisa foi muito legal de fazer, eu assisti (ou reassisti, dependendo do caso) simplesmente todos os filmes de temas LGBT realizados pelos cineastas presentes no livro. A partir dessa pesquisa, formulava as perguntas que faria a cada um. Claro que existem perguntas comuns a todos. Foi um processo rico e vertiginoso, porque me vi assistindo um panorama de filmes produzidos de 1999 a 2015. É um período de muita efervescência dessa produção temática.
Como você vê a abordagem da homossexualidade nas obras hoje? Os novos cineastas estão preocupados em inserir o tema de forma natural, algo que tem seu valor, mas não acha que faltam os que abordam a história, as lutas da comunidade LGBT? Por exemplo, os nossos Milk?
Acho que você tem razão, me parece que os cineastas mais jovens se preocupam em inserir o tema de forma natural, não mais colocando o foco na questão da descoberta da homossexualidade e seus conflitos. Muitos realizadores defendem inclusive a liberdade de mostrar personagens LGBT que simplesmente vivem, e não que carregam algum tipo de bandeira.
Sobre a escassez de filmes que ficcionalizem nossa história LGBT, acredito que o motivo está na dificuldade de obter dinheiro para projetos desse tipo. É muito mais barato, prático e rápido fazer documentários sobre nossa história LGBT, em vez de filmes de ficção e de época sobre o mesmo período. Tanto é que em termos de documentários sobre nosso passado LGBT, estamos com bastante coisa legal rolando. Desde Dzi Croquettes (2009), a produtividade tem sido intensa, muita coisa legal saiu e muita coisa está para sair. Acredito que é (e espero que seja) uma questão de tempo até que possamos fazer nossos Milk, Stonewall e afins.