Brasil terá Rafael Fagundes, negro e pai adotivo, no Mr. Gay World

Modelo busca apoio financeiro para tentar conseguir título inédito pela superação da homo e transfobia

Publicado em 23/03/2016
rafael fagundes mr. gay world
Modelo assumiu-se homossexual há apenas cinco anos. Ser gay e negro marca sua vida

Natural de Salvador e residente em São Paulo, o modelo Rafael Fagundes, 30 anos, está em busca da conquista de um sonho não só para satisfazer-se, mas também para atuar pela superação da homo e transfobia. Fagundes é o candidato do Brasil ao Mr. Gay World, concurso feito desde 2009 no qual beleza e consciência política arco-íris são os pilares.

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O vencedor da disputa dentre países, que este ano será realizada em Malta, terá como responsabilidade fazer representações em eventos pelo mundo em prol dos direitos LGBT. Tal como uma miss, o mandato é de um ano. O Brasil nunca levou o título. 

Sem patrocínio, o modelo lançou campanha no Kickante, plataforma de crowdfunding, para receber doações e viabilizar sua participação no concurso, que será realizado entre 19 e 24 de abril no pequeno país europeu no Mar Mediterrâneo.

Pai adotivo de um garoto, o baiano é exemplo de cidadão consciente do mundo que o cerca sem nunca baixar a cabeça. À nossa reportagem, o gato falou sobre homofobia, passagem pela Europa e, claro, seu sonho de representar o País no Mr. Gay World e empunhar a bandeira arco-íris.

Entende-se como gay desde que idade? 
Desde os 25 anos resolvi não retrair mais o desejo que eu tinha, ou seja, há apenas cinco anos. Devido a alguns traumas e acontecimentos de minha vida, eu negava aquele desejo, até que um dia não suportei mais. Como morava na Europa, onde as pessoas, de certa maneira, têm cabeça mais aberta do que no Brasil, isso foi uma motivação fundamental pra que eu decidisse levar a vida do jeito que eu sempre quis.

O processo difícil ocorreu na volta ao Brasil, pois precisei revelar a todos minha sexualidade, eu não queria viver uma mentira. Perdi muitas pessoas que diziam ser minhas amigas, mas as que ficaram são especiais e eu pude provar isso.

Você já foi vítima de homofobia?
Já sofri homofobia e sofro até hoje. As pessoas têm mania de ridicularizar os gays, como se não bastassem as agressões diárias que sofremos. Já teve gente que se afastou de mim em banco de metrô, pessoas que me xingaram de viado e bicha com intuito de me diminuir, dentre outras ações. E até parente, que afirmou que sou a vergonha da família.

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"Aceitei o convite porque desejo atuar pelos direitos civis LGBT", explica

Você tem um filho?
Tenho um filho que adotei sozinho quando ele tinha três anos. Hoje, Dinho tem nove anos e é minha inspiração para a luta dos direitos civis para qualquer um na sociedade, seja hétero, homo, trans...

Como é a vivência de ser negro e gay?
É difícil fazer parte de dois segmentos que são fortemente atacados todos os dias. São frases que muitos pensam que não causam incômodo ou dor psicológica, mas isso ocorre porque ninguém está na pele do outro. Eu encaro sempre com bravura os ataques diretos e indiretos, de cabeça erguida. Não posso baixar a minha cabeça e esconder o que eu penso.

O que te levou a aceitar o convite para o concurso?
O convite foi aceito porque desejo atuar como um lutador pelos direitos civis da comunidade LGBT. Com a visibilidade que eu já estou tendo, quero ajudar a promover novos projetos que ajudem nossa classe e também apoiar os já existentes. 

Como conseguirá ir a Malta?
Estamos trabalhando muito, correndo atrás de parceiros e apoiadores. Pessoas que pensam e defendem a causa, sem necessariamente serem gays. Temos a plataforma Kickante, onde se pode doar qualquer quantia de dinheiro ou comprar um dos nossos prêmios. Quero muito contar com a ajuda do meu país, o Brasil.


Parceiros:Lisbon Gay Circuit Porto Gay Circuit
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