Dizer que Renata Peron é uma sobrevivente não é força de expressão. Nascida em João Pessoa em 1977, ela sofreu bullying e levou pedradas na infância, além de perder a mãe (por suicídio) aos sete anos.
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Foi morar na casa de um de seus 13 irmãos, mas acabou abandonada tempos depois. Em busca de recomeço, chegou a São Paulo há 14 anos e assumiu sua identidade como mulher trans. Aqui, foi violentamente espancada por nove skinheads, em 2007, na Praça da República, o que lhe resultou na perda de um dos rins.
Na cena LGBT, Renata ficou conhecida tanto por seu lado artístico (ela é atriz e cantora e já gravou quatro álbuns) quanto pela militância. Formou-se assistente social pela Uninove, ajudou a organizar a Caminhada pela Paz nos últimos três anos e preside o Centro de Apoio e Inclusão Social de Travestis e Transexuais (Cais), do qual precisou se afastar para disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados pelo Psol. Essa é sua primeira eleição.
O Brasil é um dos países mais avançados do mundo em relação à proteção e legislação pró-LGBT, mas ainda há desafios para a cidadania arco-íris. Quais suas propostas para que o Brasil avance nesta questão?
Criar marco legal protetivo às identidades de gênero para assegurar direitos da população de travestis e transexuais, tais como legalizar a mudança do nome e sexo, empregabilidade, e ampliação dos serviços públicos.
Lutar pela criminalização da LGBTIfobia e apoiar projetos de incentivo à cidadania plena de LGBT, como ações de visibilidade dos direitos da diversidade sexual e de gênero e instituição de políticas de saúde integral da população LGBT.
Quais são seus projetos para a população brasileira em geral?
A atuação do nosso mandato será plural! As principais decisões, como destinação dos recursos das emendas parlamentares, serão tomadas em audiências públicas realizadas em várias cidades do Estado de São Paulo.
Vamos apresentar projetos de Lei para facilitar a participação popular para aproximar as populações mais vulneráveis das decisões do Congresso, democratizar as decisões do governo, possibilitar a educação cidadão por meio da participação política.
Votar em você ajuda a eleger pessoas de seu partido e sua coligação. Quais são esses partidos? Qual o compromisso deles com a cidadania LGBT?
Eu estudei o estatuto de vários partidos de esquerda e vi que a maioria deles tinha uma frase do tipo 'igualdade e fraternidade' e inclusão das lutas das minorias. Todos têm a mesma coisa, só que na prática eu percebi que o Psol acolhe as diferenças no sentido de nos vermos como igual realmente.
É meu primeiro ano como candidata e eu já vou ter ajuda de custo do próprio partido, coisa que nos outros partidos eu sequer ouvi falar nisso.
Apesar de ser pouco, eles acreditam que realmente a representatividade é muito importante. Então, se eu não conseguir entrar porque não tenho grana suficiente para colocar na minha campanha, se qualquer um desses [candidatos] que estão despontando nas pesquisas (Ivan Valente, Luiza Erundina, e mais alguns), ganhar, eu vou ficar feliz porque vou poder cobrar deles.
Minha intenção é que eu entre, mas é muito difícil, logo de primeira, uma trans... Ainda tem os bairrismos, dentro do próprio partido tem preconceito ainda, tem machismo, tem sexismo.
A gente tem de desconstruir isso com o tempo. Mas foi o partido em que me senti incluída, por isso acredito e vou trabalhar em prol dele.
Essa entrevista faz parte de série do Guia Gay São Paulo com candidaturas de LGBT. O objetivo é dar visibilidade as suas propostas, partidos e coligações de forma a colaborar com a decisão do segmento arco-íris e simpatizantes na hora do voto.